Teste 1


Certo dia, depois de tantas conversas, ele me perguntou algo que nunca havia perguntado. Me assustei, não com a pergunta, mas com a forma como perguntou. Ele costumava falar num tom de voz baixo, mas sussurrou a pergunta, com a cabeça baixa, sendo que tinha o costume de olhar nos olhos da pessoa com quem conversava, quem quer que fosse ela. Ele me perguntou se eu já havia amado alguém. Era estranho, pois não havia nada que ele não soubesse sobre mim, pensava eu. Apesar de estar espantada, minha resposta foi sincera e tímida. “Não”, eu disse, observando seu rosto. Ele gemeu alguma coisa que eu não entendi. Eu o observei por alguns longos minutos. Queria que aquela imagem ficasse para sempre em minha memória. Quando foi que eu olhei para ele assim? Quando foi que eu procurei imperfeições nele, e não encontrei? Como é que eu nunca notei a pinta que ele tinha no queixo, suas sardas claras, o formato de sua boca ou a mistura de verde e caramelo que seus olhos tinham? Como foi que eu nunca notei sua beleza? Ele era lindo. Incrível e absurdamente lindo. Queria ficar ali, para sempre, olhando-o sob a luz clara do crepúsculo. Suas bochechas coraram, e eu percebi que aquele silêncio já estava constrangedor. Foi difícil ir embora, mas eu fui.

Quando cheguei em casa, naquela noite, subi as escadas sem hesitar na porta e fui direto ao quarto. Imersa em pensamentos, deitei na cama, afundando o rosto no travesseiro. O que estava acontecendo comigo? Senti a necessidade de ouvir a resposta de alguém. Do meu melhor amigo, talvez. Peguei o telefone e disquei o número sem hesitar. Ele atendeu rapidamente, com a voz rouca. Eu não disse nada. Algo na voz dele me imobilizou. Ele também não disse nada. Até o som do silêncio eu podia ouvir; era constrangedor. Eu quase pude ouvir seus pensamentos, junto a sua respiração. Queria perguntar mil e uma coisas, mas um nó se formou em minha garganta. Depois de alguns minutos, consegui falar. “Como é amar?”, perguntei num sussurro fraco e rouco. Foi meio estranho perguntar. Um silêncio cruel e doloroso preencheu o ar. Queria acreditar que o som que rompeu esse silêncio, não era o som de suas lágrimas. Alguns outros minutos de silêncio se seguiram. “Ouvi falar que é estranho. E realmente é…”, ele começou. Esperei. “Ouvi falar que a gente perde o chão, que é como se um abismo tivesse se aberto abaixo dos pés…”, completou. Ele parecia mais seguro agora. “E é assim?”, perguntei. “Comigo foi diferente. Foi como se, pela primeira vez, o chão estivesse ali. Como se eu soubesse que poderia caminhar sem que nada me derrubasse.” Fiquei em choque, sem conseguir dizer muito. “Quem é ela?”, me arrependi de ter perguntado. Ele soltou um suspiro pesado. Pude sentir a dor dele. Nós tínhamos algum tipo de conexão. Se ele sofria, eu sofria também e vice-versa. Não tinha como evitar. Silêncio. Novamente. Mais um suspiro e percebi 

Teste 2


Liguei para ele. Ele não atendeu. Estava começando a me preocupar, então liguei na casa dele. Sua mãe atendeu, e me disse que ele havia saído algumas horas atrás; nervoso e sem dizer para onde ia. Só havia dois lugares para onde ele ia quando estava nervoso. Para a minha casa ou para um prédio abandonado, onde ele gostava de ir para pensar. Se ele não estava comigo, ele só poderia estar lá. Fui até lá, sem pensar em outras hipóteses. Quando cheguei me senti aliviada por encontrá-lo. Ele estava de costas e não me viu. Queria me aproximar e perguntar o que estava acontecendo, mas não disse nada, apenas fiquei parada, olhando para ele. Ele ficou de pé, depois se virou para mim. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Era quase impossível controlar o impulso de sair correndo e abraçá-lo. Quando dei alguns passos à frente, ele ergueu a mão direita, como se estivesse pedindo que eu parasse, e então parei. “Não podemos mais nos ver”, sussurrou, tão baixo que foi difícil ouvir. Talvez tenha sido difícil pelo fato de eu não querer ouvir.

Demorei alguns longos minutos para digerir aquelas palavras e a forma como ele disse num tom de voz frio e rude. “Você não me verá mais. Eu prometo”, continuou, com o mesmo tom de voz. “Não! Por favor, não!”, tentei gritar, mas o nó que se formou em minha garganta impediu que minha voz saísse no tom de voz que eu queria.

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